quarta-feira, abril 12, 2006

O FUTEBOL E O CINEMA

Em ano de Copa do Mundo e sendo o Brasil o maior celeiro mundial de craques, essa reportagem do jornalista Lello Lopes sobre o fracasso comercial dos filmes sobre o esporte mais amado do país é de extrema relevância.
07/04/2006 - 08h10
Nem Copa do Mundo faz cinema brasileiro "enxergar" o futebol
Lello Lopes em São Paulo

O futebol enche a telinha da TV, mas a telona do cinema praticamente ignora o esporte. Além dos jogos ao vivo, é impossível hoje passar pelo intervalo sem ver um comercial ou uma promoção relacionada à Copa do Mundo. Já para assistir a um filme sobre futebol, o torcedor precisou de paciência em 2006. Apenas agora, a dois meses para o início da Copa, um filme sobre o esporte vai entrar em cartaz no circuito comercial brasileiro. A estréia de "Boleiros 2 - Vencedores e Vencidos" nesta sexta-feira em São Paulo e no Rio de Janeiro (na semana que vem em Curitiba e Porto Alegre) é apenas um paliativo para um fenômeno que acontece desde o início da cinematografia nacional: a pouca atenção dada ao tema."Existe uma resposta genérica e outra estrutural para isso. A genérica é que nunca houve uma indústria de cinema que merecesse esse nome no Brasil. Se você pensar em Carnaval, vai chegar em três ou quatro bons filmes. Assim, quase todo tema tem tratamento capenga. A resposta estrutural é que é muito difícil capturar a essência do futebol. Você consegue reproduzir melhor uma partida de basquete ou futebol americano. No futebol, fica muito falso", analisa o jornalista Sérgio Rizzo, crítico de cinema da Folha de S.Paulo. "As tentativas todas ficam na superfície. Dá uma sensaçãozinha postiça", completa.Rizzo usa como exemplo "O Casamento de Romeu e Julieta", filme de Bruno Barreto lançado no ano passado. Mesmo utilizando jogadores de verdade na cena em que Corinthians e Palmeiras se enfrentam no estádio do Pacaembu, as jogadas parecem muito coreografadas. "É muito falso", afirma.O filme de Barreto, mesmo diretor de "O Que é Isso, Companheiro?", foi o que teve melhor público entre os longas-metragens brasileiros sobre o futebol lançado depois da chamada "retomada" do cinema nacional, a partir de 1994. Aproximadamente 970 mil pessoas foram ao cinema assistir à história de amor entre um corintiano e uma palmeirense.O público do filme foi 51 vezes maior do que aquele que compareceu ao estádio do Morumbi para ver o polêmico empatepolêmico de 1 a 1 entre Palmeiras e Corinthians há duas semanas, pelo Campeonato Paulista. Já outros filmes da retomada tiveram público bem abaixo do esperado. "Boleiros - Era Uma Vez o Futebol...", de 1998, levou aos cinemas 60 mil pessoas. "Garrincha - Estrela Solitária", de 2003, teve um desempenho ainda mais decepcionante: 7.877 pessoas, público digno de um Madureira x Americano (aliás, os dois times levaram na semana passada ao Maracanã na decisção da Taça Rioa apenas 7.433 torcedores).
Desempenho decepcionante também teve o documentário "Pelé Eterno", de 2004, que conseguiu cerca de 260 mil espectadores, bem abaixo do 1 milhão esperado pelos produtores. Entretanto, o filme é um sucesso de vendas em DVD. Como base de comparação, o filme brasileiro mais visto no ano passado foi "2 Filhos de Francisco", com 5,3 milhões de espectadores. O recorde do país ainda pertence a "Dona Flor e Seus Dois Maridos", também de Bruno Barreto, que em 1976 levou aos cinemas mais de 10 milhões de espectadores.Ugo Giorgetti, diretor dos dois "Boleiros", acredita que existe uma pressão maior ao se fazer um filme de futebol. "Não dá para ignorar o fato de você ter 180 milhões de técnicos. Você precisa ser muito cuidadoso. E filmar cena de jogo é muito complicado, por isso tem pouca cena", explica.O veteraníssimo ator Lima Duarte, que está na única cena de jogo de "Boleiros 2", tem outra explicação para a escassez de filmes sobre o esporte. "Acho que o brasileiro ama tanto o futebol que ele identifica qualquer coisa. Assim, cada um identifica o futebol como quer."Para o historiador Sidney Ferreira Leite, autor do livro "Cinema Brasileiro - Das Origens à Retomada", o fato do cinema atrair pouco o público do futebol é que até hoje os filmes sobre o assunto não conseguiram mexer com o coração do amante do esporte."O público do futebol é diferente do público do cinema. E é difícil conseguir levar público de uma mídia muito popular (o futebol) para o cinema. "2 Filhos de Francisco" conseguiu fazer isso com o público de música sertaneja, mas o futebol ainda não conseguiu. Talvez o Mazzaropi (que realizou "O Corintiano", em 1967) tenha conseguido, mas a faixa de público dele coincidia com a do futebol", explica Leite.O filme de Mazzaropi é até hoje lembrado como um dos melhores sobre o futebol no Brasil. O primeiro sobre o tema é "Campeão de Futebol", dirigido por Genésio Arruda em 1931, que tem no elenco craques da época como Feitiço e Arthur Friendreich. Desde então, a participação de boleiros em filmes sobre o futebol se tornou uma constante, que vão desde Leônidas da Silva em "Alma e Corpo de uma Raça", de 1938, a Sócrates, em "Boleiros - 2".
Sócrates, aliás, brinca com a sua atuação. "Eu não interpreto a mim mesmo. Isso é um factóide. Eu interpreto um ex-jogador. É que fazer um ex-boleiro é pleonástico."O jogador brasileiro que conseguiu maior sucesso no cinema, interpretando a si mesmo ou fazendo um outro papel, é o mesmo que teve o melhor desempenho no campo: Pelé. A primeira participação do Rei no cinema foi em "O Preço da Vitória", de 1959. Em 72, fez Chico Bondade, no filme "A Marcha". Sete anos depois, no papel dele mesmo, atuou no filme "Os Trombadinhas".Outra participação bastante lembrada de Pelé aconteceu em 1986, quando ele foi goleiro em "Os Trapalhões e o Rei do Futebol". Mas o seu filme mais famoso aconteceu mesmo no exterior. Em 1981 ele foi uma das estrelas de "Fuga para a Vitória", dirigido por John Houston, que tinha o brucutu Sylvester Stallone como goleiro, o inglês Michael Caine como técnico e a participação de alguns outros jogadores, como Bobby Moore.

PEQUENA PRODUÇÃO ESTRANGEIRAA pouca atenção do cinema ao futebol não é um fator exclusivo do Brasil. Até hoje, nenhum filme sobre o esporte conseguiu ser um sucesso de crítica e público. A produção mais audaciosa é "Gol!", que conta até com um aval oficial da Fifa. O filme, lançado no ano passado, é o início de uma trilogia que mostra a ascenção de Santiago, norte-americano que deixa um bairro pobre de Los Angeles para tentar a sorte na Inglaterra.Vários jogadores participam do filme, entre eles David Beckham, Raúl, Zidane, Alan Shearer, Gerrard e Kluivert. Entretanto, o ar de superprodução não impediu o filme de ser um fracasso nas bilheterias. De qualquer forma, os outros dois filmes da série estão programados para estrear em 2006 e 2007.Outro filme de futebol lançado no ano passado foi o alemão "O Milagre de Berna", que usa como pano de fundo a vitória da Alemanha sobre a Hungria na decisão da Copa do Mundo de 1954, na Suíça. O filme, entretanto, não ficou muito tempo em cartaz no Brasil. Pior aconteceu com "Hooligans" (foto), que tem no elenco o eterno hobbit Elijah Wood. A história do norte-americano que se muda para a Inglaterra e acaba envolvido com hooligans locais passou longe dos cinemas brasileiros. Apenas cópias em DVD foram disponibilizadas para o país.

OUTROS FILMES SOBRE FUTEBOL
Futebol em Família (1939)O Gol da Vitória (1945)O Homem Que Roubou a Copa do Mundo (1961)Garrincha, Alegria do Povo (1962)Passe Livre (1974)Asa Branca, Um Sonho Brasileiro (1980)Onda Nova (1983)Pra Frente Brasil (1984)Uma Aventura de Zico (1998)A Taça do Mundo é Nossa (2003)

terça-feira, abril 11, 2006

MORRE VILGOT SJÖMAN, DIRETOR DO CONTROVERSO " I AM CURIOUS, YELLOW"

Copenhague, 10 abr (EFE).
- O escritor e diretor de cinema suecoVilgot Sjoman, discípulo de Ingmar Bergman, morreu aos 81 anos como conseqüência de um derrame cerebral, informou hoje o Comitê Sueco deProfissionais Artísticos e Literários em comunicado.O cineasta, que morreu neste domingo no hospital Sankt Goeran deEstocolmo, trabalhou no começo de carreira como ajudante de Bergman,que disse há anos que tinha ensinado Sjoman a escrever roteiros.Sjoman rodou 15 filmes durante sua carreira, em que combinou ficção e documentário para questionar a sociedade sueca.Após sua estréia com "Aelskarinnan" (A amante sueca, 1962), Sjoman adquiriu fama na Suécia com a adaptação cinematográfica do romance"491" (1964), de Lars Goerling, proibida por suas cenas explícitasde de sexo e violência.O sucesso internacional veio três anos depois com "Jag aernyfiken-gul" (Sou curiosa, amarelo) e sua continuação "Jag aernyfiken-blaa" (Sou curiosa, azul), que chamou a atenção por suas provocadoras cenas de sexo. O cineasta foi processado nos Estados Unidos por causa desse filme, acusado de obscenidade e pornografia.Ganhador do prêmio Ingmar Bergman em 2003, Sjoman lançou sua última obra, "Alfred", sobre o inventor Alfred Nobel, em 1995. Nos últimos anos, Vilgot Sjoman esteve envolvido junto ao diretor Claes Eriksson em um processo contra o canal "TV4" por violar seus direitos autorais ao intercalar anúncios na emissão de seus filmes na televisão. Os diretores ganharam o caso em primeira instância em dezembro de 2004, mas o canal recorreu da sentença à Audiência Nacional, que divulgará na quarta-feira sua decisão judicial.

segunda-feira, abril 10, 2006

"CASABLANCA" É ELEITO O FILME COM MELHOR ROTEIRO DE TODOS OS TEMPOS

da BBC Brasil
O clássico Casablanca foi eleito o filme com o melhor roteiro da história do cinema, em uma votação realizada pelo Writers Guild of America, que reúne roteiristas de Hollywood.Na eleição, os membros da associação escolheram os 101 melhores roteiros de uma lista de mais de 1,4 mil.A produção estrelada por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, de 1942, foi adaptada por Julius e Philip Epstein, além de Howard Koch, da peça Everybody Comes to Rick's, de Murray Burnett e Joan Alison.O Poderoso Chefão, de Mario Puzo e Francis Ford Coppola, ficou em segundo lugar na pesquisa. A seqüência O Poderoso Chefão 2 também está entre os dez mais votados.O terceiro do ranking foi Chinatown, escrito por Robert Towne e dirigido por Roman Polanksi.Outro clássico dos anos 40, Cidadão Kane, de Herman Mankiewicz e Orson Welles, ficou em quarto lugar.A lista dos Top 5 é completada por A Malvada, de Joseph Makiewicz.Os roteiristas com mais roteiros indicados entre os finalistas foram Woody Allen, Francis Ford Copolla e Billy Wilder, com quatro, cada um.Charlie Kaufman, William Goldman e John Huston tiveram três menções cada

quinta-feira, abril 06, 2006

O PODER DA GELÉIA

CONFITUUR
Idem, Bélgica/Suíça, 2004. De: Lieven Debrauwer. Com: Rik Van Uffelen, Marilou Mermans, Chis Lomme, Viviane De Muynck, Ingrid De Vos, Jasperina de Jong.L/DR. Visto 21/03. 84 min.
Comentário:
Confituur (geléia) é uma delicada parábola sobre o desgaste natural das relações humanas diante da inevitável e difícil passagem do tempo. A história é centrada num casal de idosos, prestes a comemorar 50 anos de união, formado pelo mal humorado Tuur, proprietário de uma pequena sapataria, e pela doce Emma, uma dedicada dona de casa. Os dois não dormem mais no mesmo quarto há muito tempo, face os roncos do marido, e quase não dialogam mais, deixando as rédeas da casa e do destino da pequena família nas mãos da temperamental Gerda, irmã de Tuur, que em virtude de uma doença congênita não consegue mais andar e passa os dias sobre uma cama supervisionando as atividades domésticas e interferindo na vida pacata do velho casal.
No dia da festa para comemorar as bodas de ouro, Tuur decide dar um basta na rotina diária e abandona a esposa sem deixar explicação alguma, indo morar com sua outra irmã Josée, defenestrada desde cedo pela família por ter optado viver entre as luzes e o brilho do palco de um cabaret. Desolada de início, mas conformada como de costume, Emma aos poucos vai adquirindo vontade própria e transformando os seus dias. De mulher triste e submissa, torna-se empreendedora e passa a ganhar dinheiro com a venda das geléias que outrora eram feitas para o consumo próprio. Apoiada pela única filha e pela cunhada deficiente, a doce senhora toma para si o controle da própria vida e, pela primeira vez em muitos anos, redescobre a alegria de viver.
No outro extremo, o velho Tuur começa a sentir saudades da vidinha sem graça e novidade que havia deixado para trás e que era a única que conhecia e, no fundo, gostava. Cabisbaixo e calado, aproveita o clima de tristeza causado pelo velório de Gerda, que morreu vítima de uma queda, para ir voltando ao antigo lar. Silenciosamente, recomeça a ajudar Emma nas rotinas domésticas e ao final do dia é recompensado com a imagem do seu velho pijama bem passado e meticulosamente colocado sobre a cama, simbolizando o perdão da esposa. Mas dessa vez algo mudou, os papéis se inverteram e agora é Tuur quem acorda a mulher para trabalhar.
Um belo exemplar do moderno cinema belga, cuja cinematografia nunca foi devidamente prestigiada. O tema da terceira idade é recorrente na filmografia do jovem Lieven Debrauwe, que estreou no longa-metragem com Pauline & Paulette (2002), sobre o tortuoso conflito vivido por três velhas irmãs, que recebeu o prêmio do júri ecumênico em Cannes, e fez uma bela carreira internacional. Confittur é o segundo longa do diretor. Mais consistente e tecnicamente superior ao anterior, tem na força das interpretações de um elenco formado por veteranos, e no uso correto das pausas e dos silêncios prolongados, duas grandes qualidades. Destaque para as mágicas seqüências que ocorrem quando o diretor sincroniza com perfeição as ações dos personagens com a música incidental, criando um inusitado e divertido concerto visual, onde até os gritos e reclamações da velha Gerda transformam-se, aos olhos da câmera, nas orientações de um exaltado maestro. Pura poesia.