segunda-feira, agosto 27, 2012

CESARE DEVE MORIRE


"A arte existe porque a vida não basta"
Esta frase proferida pelo grande poeta Ferreira Gullar durante um programa de TV e que virou hit nas redes sociais, ficou ecoando em minha mente durante toda a projeção do filme italiano CESARE DEVE MORIRE (ainda não lançado no Brasil). Dirigido pelos veteranos irmãos Paolo e Vittorio Taviani (Pai Patrão, A Noite de São Lourenço) e laureado com o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim deste ano, o longa registra a experiência real vivida pelo diretor teatral Fábio Cavalli que topou o desafio de ensaiar com os presos de uma unidade de segurança máxima de Roma a peça “Julius Caesar”, de William Shakespeare.
Apesar do enfoque documental, o filme é editado como uma ficção que dramatiza de forma crua o envolvimento e a transformação interna vivida por cada um daqueles homens. Todos, condenados pelos mais variados crimes, mergulham de corpo e alma no universo da famosa peça clássica que versa sobre temas tão caros ao seu universo  como poder, assassinato e conspiração.
O amadorismo do elenco, a opção pela fotografia em preto e branco para as cenas de ensaio (em contraponto ao vermelho vivo usado no cenário da peça) e a montagem enxuta nos remete de imediato aos clássicos do neorrealismo italiano e demonstra toda a vitalidade destes diretores que já ultrapassaram a barreira dos oitenta anos, provando aqui que ainda não perderam sequer uma centelha do talento de outrora. A metragem curta (70 e poucos minutos) e a música incidental belíssima (composta por Giuliano Taviani, filho de Vittorio) complementam o encanto.
Ao final, ainda somos arrebatados por uma cena que resume bem toda a orquestração cênica elaborada até então. Após a apresentação do espetáculo, os presos voltam em silêncio para as suas celas.O detento que interpretou o personagem Cassius - na vida real, um condenado a prisão perpétua - olha fixamente para a câmera e profere a frase: “Depois que eu me aproximei da arte, esta cela ficou parecendo uma prisão...”. Eles, enfim, ampliaram o diminuto horizonte das celas pelas mãos da arte.

segunda-feira, junho 18, 2012

domingo, junho 17, 2012

A MAIS BELA DE TODAS

Nos tempos áureos do cinema, a beleza era um componente quase que obrigatório para uma grande estrela. O glamour era um misto de talento, classe e perfeição física. Difícil era encontrar estas três características numa única atriz. Bette Davis e Katherine Hepburn foram as mais talentosa e tinham classe de sobra, mas não eram belas. Jean Harlow, Rita Hayworth e Marilyn eram a personificação cênica do desejo, mas nunca foram valorizadas pelo talento. Talvez a única representante desta constelação de divas que conseguiu conjugar com maestria estes três itens foi a hoje esquecida Gene Tierney. Se alguém dúvida ou nunca ouviu falar, corra para alugar, comprar ou baixar com o urgência o clássico "Amar foi minha ruína" (Leave her to heaven, 1945) pela qual foi indicada ao Oscar e onde vive uma desequilibrada capaz de tirar a própria vida por ciúmes do amado. Ou então Laura (1944) de Otto Preminger, um clássico do filme noir cuja trama tem início quando a personagem título vivida por Tierney desaparece misteriosamente.

sexta-feira, junho 15, 2012

CARLOS REICHENBACH (1945 - 2012)


Ontem uma grande perda foi anunciada. Morreu o cineasta Carlos Reichenbach, apelidado carinhosamente de “Carlão” pelos mais íntimos em virtude da alta estatura. Gaúcho de nascimento, fez carreira na cidade de São Paulo onde foi um dos pioneiros da famosa Boca do Lixo, área do centro responsável pela produção dos maiores sucesso de bilheteria dos anos sessenta no gênero pornochanchada. Carlão dirigiu alguns filmes do gênero e foi diretor de fotografia da obra de outros colegas, mas logo o seu cinema de “autor” se sobrepôs e a sua filmografia ficou a margem do cinema comercial. Nunca foi campeão de bilheteria, mas sempre se manteve fiel ao estilo próprio.
Dono de uma vasta cultura cinematográfica, manteve nos últimos anos o blog REDUTO DO COMODORO, do qual eu era um fã incondicional. No endereço virtual o grande diretor compartilhava a sua cultura fílmica e a memória dos anos vividos nos bastidores da sétima arte tupiniquim. A cereja do bola eram os endereços de downloads de grandes clássicos e de obras marginais compartilhados com os leitores, já que Carlão era defensor ferrenho deste método para manter “vivas” obras que dificilmente chegariam as salas de cinema ou seriam lançadas em DVD, BlueRays e afins onde o ineditismo é regra.
Partiu ontem, no dia de seu aniversário, o homem que em vida mais “ressuscitou” filmes.

FILMOGRAFIA:
1968 - AS LIBERTINAS (epis. ALICE)
1969 - ADÁCIA, A  FÚRIA DOS DESEJOS (epis. A BADALADÍSSIMA DOS TRÓPICOS)
1971 - CORRIDA EM BUSCA DO AMOR
1973 - O GURU E OS GURIS
1974- LILIAN M. – RELATÓRIO CONFIDENCIAL
1977- SEDE DE AMAR OU CAPUZES NEGROS
1977- A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS
1978- O IMPÉRIO DO DESEJO
1979- AMOR, PALAVRA PROSTITUTA
1980- PARAÍSO PROIBIDO
1982- AS SAFADAS (epis. A RAINHA DO FLIPERAMA)
1983- EXTREMOS DO PRAZER
1985- FILME DEMÊNCIA
1986- ANJOS DO ARRABALDE
1988- CITY LIFE (epis. DESORDEM EM PROGRESSO)
1994- ALMA CORSÁRIA
1999- DOIS  CÓRREGOS
2003- GAROTAS DO ABC
2005- BENS CONFISCADOS
2007- FALSA LOURA

terça-feira, janeiro 24, 2012

OSCAR 2012 : AS INDICAÇÕES

As indicações ao Oscar foram divulgadas esta manhã. Entre mortos e feridos, a Academia comprovou que detesta a animação "Rio", mas adora tanto a nossa música que lembrou da canção dos nossos Sérgio Mendes e Carlinhos Brown. Reabilitou filmes que estavam perdendo força como "A Arvóre da Vida" de Terence Malick e apostou as fichas no inédito "Extremely Loud and Incredibly Close". Prestigou com duas indicações o soberbo filme iraniano "A Separação", comprovando que não dá a mínima para a atual conjuntura política. Esnobou Leonardo Di Caprio e o seu belo registro de J. Edgar Hoover. Substituiu a excelente Tilda Swinton pela novata Rooney Mara e foi coenrente no quesito atriz coadjuvante incluindo a hilária Melissa McCarthy. No fim das contas a briga ficará polarizada entre "O Artista" e "Os Descendentes", com "Hugo" correndo por fora. Vamos a lista:

PICTURE

  • THE ARTIST
  • THE DESCENDANTS
  • EXTREMELY LOUD AND INCREDIBLY CLOSE
  • THE HELP
  • HUGO
  • MIDNIGHT IN PARIS
  • MONEYBALL
  • THE TREE OF LIFE
  • WAR HORSE

ACTRESS

  • CLOSE
  • DAVIS
  • MARA
  • STREEP
  • WILLIAM
ACTOR
  • BICHIR
  • CLOONEY
  • DUJARDIN
  • OLDMAN
  • PITT
SUPP ACTRESS
  • BEJO
  • CHASTAIN
  • MCCARTHY
  • MCTEER
  • SPENCER
SUPP ACTOR
  • BRANAGH
  • HILL
  • NOLTE
  • PLUMMER
  • VON SYDOW

DIRECTOR

  • HAZANAVICIUS
  • PAYNE
  • SCORSESE
  • ALLEN
  • MALICK

ORIGINAL SCREENPLAY

  • ARTIST
  • BRIDESMAIDS
  • MARGIN CALL
  • MIDNIGHT IN PARIS
  • A SEPARATION
ADAPTED SCREENPLAY
  • DESCENDANTS
  • HUGO
  • IDES
  • MONEYBALL
  • TINKER

ANIMATED FILM

  • A CAT IN PARIS
  • CHICO AND RITA
  • KUNG FU PANDA
  • PUSS IN BOOTS
  • RANGO

COSTUME DESIGN

  • ANONYMOUS
  • THE ARTIST
  • HUGO
  • JANE EYRE
  • W.E.

CINEMATOGRAPHY

  • THE ARTIST
  • THE GIRL WITH THE DRAGON TATTOO
  • HUGO
  • THE TREE OF LIFE
  • WAR HORSE

EDITING

  • THE ARTIST
  • THE DESCENDANTS
  • THE GIRL WITH THE DRAGON TATTOO
  • HUGO
  • MONEYBALL

FOREIGN LANGUAGE FILM

  • BELGIUM "BULLHEAD"
  • CANADA "MONSIEUR LAZHAR"
  • ISRAEL "FOOTNOTE"
  • IRAN "A SEPARATION"
  • POLAND "IN DARKNESS"

MAKEUP

  • ALBERT NOBBS
  • HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS PART 2
  • THE IRON LADY

domingo, janeiro 22, 2012

A FESTA DO GLOBO DE OURO 2012


A festa do globo de Ouro 2012 foi marcada pela descontração, característica habitual desta premiação mantida pela Associação de Críticos Estrangeiros de Los Angeles. Além de premiar os melhores do cinema, eles também destacam os melhores da TV. Projetada como um grande jantar, com direito a bebida, a festa não tem números musicais e nem tecnologia de ponta, resultando ágil e muito mais divertida do que o tradicional Oscar. A premiação também se destaca das demais pelas decisões polêmicas dos diretores do evento. Esta ano, tiveram a coragem de colocar o comediante Ricky Gervais como mestre-de-cerimônias pela segunda vez consecutiva, ignorando a saraivada de críticas recebidas pela cerimônia do ano anterior, onde o comediante falou mal até de quem estava na platéia e soltou farpas pesadas contra o establishment hollywoodiano. Mesmo assim, o Tio Sam foi benevolente e deu uma nova chance ao britânico de boca suja.
Infelizmente, as críticas devem ter surtido algum efeito pois o comediante estava menos ácido e totalmente engessado. Tirando o costume irritante de entrar no palco agarrado a um copo de cerveja, a piadinha mais grosseira foi quando ele citou Mel Gibson e disse que nenhum outro homem havia visto o Beaver de Jodie Foster (título do filme dirigido pela estrela que tentou reerguer a carreira do decadente astro). Na verdade, ele fez um trocadilho infame com a palavra, pois beaver (além de significar “esquilo”) também é usado como gíria para designar o orgão sexual feminino e Jodie é sabidamente lésbica.
Os discursos dos laureados deste ano não foram especialmente inspirados, mas merecem destaque o do queridinho da premiação George Clooney - melhor ator dramático pelo filme The Descendents - que agradeceu ao concorrente Michael Fassbender com uma piadinha sobre o avantajado membro do colega que aparece nu e em tórridas cenas eróticas no filme Shame (2011), sobre a crise de um viciado em sexo. Michele Williams - melhor atriz no quesito comédia ou musical por Five Weeks with Marilyn - não citou o saudoso marido Heath Ledge, mas dedicou o prêmio integralmente a filha que teve com o ator. O agradecimento mais original veio do elenco de Modern Family, a melhor série cômica. Enquanto o produtor agradecia a láurea em inglês, a atriz latina (e linda) Sophia Vergara fazia a tradução simultânea do que ele dizia usando um espanhol politicamente incorreto. O timing de comédia foi perfeito.
E, por último , não poderia deixar de lado o astro que roubou a cena. Não, não foi o Brad Pitt se apoiando numa bengala e muito menos a ubíqua Meryl Streep (melhor atriz dramática pelo filme The Iron Lady). Quem chamou todos os holofotes para si foi o cãozinho Uggie que estrela o filme francês O Artista, ao lado de Jean Dujardin (melhor ator de comédia e/ou musical). O astro de quatro patas realizou alguns truques no palco da festa, ofuscando todo o elenco que acabara de subir para receber o prêmio de melhor filme do ano no quesito Comédia e/ou Musical.
Agora é tentar assistir a alguns dos filmes laureados que devem estrear no Brasil nos próximos dias (muitos já foram lançados e outros saíram direto em DVD) e aguardar a mais famosa premiação do ano: o Oscar. As indicações serão anunciadas no dia 24 deste mês e até lá saberemos se os resultados do Globo de Ouro ainda exercem influência na decisão dos acadêmicos. “