sexta-feira, julho 13, 2007

O OLHO QUE TUDO VÊ

COMING APART
Idem. EUA, 1969. De: Milton Moses Ginsberg. Com: Rip Torn, Sally Kirkland, Viveca Lindfords. A/DR. Comentário:
Fita de vanguarda com estrutura experimental bastante original. Psiquiatra nova-iorquino oculta uma câmera super 8 na sala de seu apartamento. A câmera é estrategicamente colocada defronte a um sofá, adornado por um grande espelho capaz de refletir todo o ambiente ao redor. O objetivo inicial é filmar as suas consultas diárias, mas ele toma gosto pela nova brincadeira e passa a registrar fatos banais do seu cotidiano como as constantes brigas com a ex-esposa, a relação conturbada com a amante maníaco-depressiva e uma orgia em companhia de amigos.
Assim como voyeurs de primeira viagem, assistimos a todo o filme pelas lentes imóveis da câmera do psiquiatra num exercíco curioso de metalinguagem. Vemos o mesmo que ele vê, como cúmplices impassíveis de seres humanos frágeis que desnudam as suas angústias diante de nossos olhos. Apesar da imobilidade proprocionada pelo plano fixo, os personagens comandam a ação e movimentam-se sem saber que são registrados. Só ficamos angustiados quando eles somem do foco e temos que adivinnhar o decorrer da ação (caso da seqüência final, onde um tiro é dado e ficamos sem saber se alguém foi atingido), num exercício de imaginação só proporcionado pela literatura.
Filme de estréia de Ginsberg, que depois faria mais um único longa-metragem (o terror B “O Lobisomem de Washington” de 1973) e ganharia prestígio como editor de filmes de terceiros. Por conter algumas ousadias como a nudez frontal de um travesti, “Coming Apart” quase não foi visto em sua estréia já que recebeu a temida classificação X do MPPA (órgão responsável pela censura nos EUA), destinada aos filmes pornográficos e ficou poucos dias em cartaz. Descoberto pelos franceses, foi relançado em 2004 pela Gémini Films e virou cult. Mais do que merecido.
Além da competência interpretativa habitual de Rip Torn como o psiquiatra, quem rouba o filme é uma jovem (e constantemente nua) Sally Kirkland, excelente no difícil papel da amante tresloucada e bipolar, que vai da alegria contagiante até a mais profunda depressão em questão de segundos. Um desempenho magistral que foi obscurecido pela péssima distribuição do filme, fazendo com que a carreira de Kirkland desvalace para pequenas pontas durante todos os anos setenta, só sendo reerguida em 87 com o filme “Anna” que lhe proporcionou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática e uma indicação ao Oscar. Coisas do cinema.........

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