"A arte existe porque a vida não basta"
Esta frase proferida pelo grande poeta Ferreira Gullar durante um programa de TV e que virou hit nas redes sociais, ficou ecoando em minha mente durante toda a projeção do filme italiano CESARE DEVE MORIRE (ainda não lançado no Brasil). Dirigido pelos veteranos irmãos Paolo e Vittorio Taviani (Pai Patrão, A Noite de São Lourenço) e laureado com o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim deste ano, o longa registra a experiência real vivida pelo diretor teatral Fábio Cavalli que topou o desafio de ensaiar com os presos de uma unidade de segurança máxima de Roma a peça “Julius Caesar”, de William Shakespeare.
Esta frase proferida pelo grande poeta Ferreira Gullar durante um programa de TV e que virou hit nas redes sociais, ficou ecoando em minha mente durante toda a projeção do filme italiano CESARE DEVE MORIRE (ainda não lançado no Brasil). Dirigido pelos veteranos irmãos Paolo e Vittorio Taviani (Pai Patrão, A Noite de São Lourenço) e laureado com o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim deste ano, o longa registra a experiência real vivida pelo diretor teatral Fábio Cavalli que topou o desafio de ensaiar com os presos de uma unidade de segurança máxima de Roma a peça “Julius Caesar”, de William Shakespeare.
Apesar do enfoque documental, o filme é editado como uma
ficção que dramatiza de forma crua o envolvimento e a transformação
interna vivida por cada um daqueles homens. Todos, condenados pelos mais variados
crimes, mergulham de corpo e alma
no universo da famosa peça clássica que versa sobre temas tão caros ao seu
universo como poder, assassinato e
conspiração.
O amadorismo do elenco, a opção pela fotografia em
preto e branco para as cenas de ensaio (em contraponto ao vermelho vivo usado
no cenário da peça) e a montagem enxuta nos remete de imediato aos clássicos do
neorrealismo italiano e demonstra toda a vitalidade destes diretores que já
ultrapassaram a barreira dos oitenta anos, provando aqui que ainda não perderam
sequer uma centelha do talento de outrora. A metragem curta (70 e poucos
minutos) e a música incidental belíssima (composta por Giuliano Taviani, filho de Vittorio) complementam o encanto.
Ao final, ainda somos arrebatados por uma cena que resume bem toda a orquestração cênica
elaborada até então. Após a apresentação do espetáculo, os presos
voltam em silêncio para as suas celas.O detento que interpretou o personagem Cassius - na
vida real, um condenado a prisão perpétua - olha fixamente para a câmera e profere a frase: “Depois que eu me aproximei da arte, esta
cela ficou parecendo uma prisão...”. Eles, enfim, ampliaram o diminuto horizonte das celas pelas mãos da arte.
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