sábado, junho 24, 2006

O JAPÃO POP

É tão raro a comercialização de filmes nipônicos por estas praias, que o registro deste evento torna-se imprescindível: "Entre os dias 28 de junho a 16 de julho o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, receberá a mostra "JAPÃO POP-O NOVO CINEMA JAPONÊS". O evento apresenta um panorama inédito no Brasil da cultura jovem do Japão atual, a partir do olhar de alguns de seus mais importantes e originais cineastas contemporâneos. Foram escolhidos filmes que "refletem e revelam tanto nos aspectos da produção quanto na temática, o que de mais novo está ocorrendo na arte no Japão deste início de milênio", diz Marcos Mantoan, gestor do CCBB. Além da apresentação dos filmes, serão realizadas palestras (sempre aos sábados), que abordarão o surgimento deste cinema e a visão de seus autores.

FILMES
Blue Spring (foto acima) (Aoi Haru)2000, 35 mm, 14 anosDir. Toshiaki ToyodaSufocados e entediados pela vida de estudante, Kujo e seu amigo de infância Aoki acabam de entrar, juntos com outros colegas, no colegial. Em um perigoso jogo onde eles saltam e batem palmas até se segurarem de volta no parapeito da cobertura do edifício da escola, é decidido quem vai comandar o grupo, e a escola. Kujo alcança um novo recorde de oito palmas. Mas para ele, vencer o jogo e comandar a escola parecem não importar nem um pouco. Incomodado com essa atitude de Kujo, Aoki repentinamente muda de visual e comportamento, entrando em rivalidade com seu antigo amigo.Primeira adaptação para cinema de um livro do popular artista de "mangas" Matsumoto Taiyo, Blue Spring é uma reflexão sobre os problemas e ansiedades de um grupo de estudantes do ensino secundário. Com sua história totalmente centrada na vida dentro do ambiente escolar, que é tratado quase como um universo à parte, o filme mostra a difícil busca da individualidade dentro das relações de poder e de necessidade de auto-afirmação dos jovens estudantes.

Electric Dragon 80.000 V (Electric Dragon 80.000 V)2000, 55 min, Vídeo, 12 anos.Dir. Sogo IshiiQuando criança, ao subir em uma torre de alta tensão, "Dragon eye" Morrison sofreu uma descarga elétrica que o carregou com a força de 80.000 Volts. Agora ele divide seu tempo entre explosões de violência, tocar sua guitarra e procurar lagartos perdidos. Thunderbolt Budd, um perito em eletricidade com o mesmo poder de Morrison, ao descobrir sua existência resolve torná-lo seu rival e atraí-lo para um duelo. Até que os dois finalmente se encontram em uma batalha com a carga de relâmpagos.O filme, além de reassumir uma forma anarco-punk dos anos 80, ressalta o submundo dos becos e telhados de Tókio, em uma linguagem visual que deve muito à arte dos mangás. Com uma trilha sonora punk e barulhenta, seu caráter audacioso é reafirmado pela presença de dois grandes ídolos do cinema japonês (Tadanobu ASANO e Masatoshi NAGASE) nos papéis principais, não escolhidos por acaso, segundo Ishii, que mostra, literalmente, a sua intenção de chocar o público.

Female (Fimeiru) 2005, 118 min, 35 mm, 16 anosDir. Tetsuo Shinohara, Ryuichi Hiroki, Suzuki Matsuo, Miwa Nishikawa, Shinya TsukamotoFEMALE é uma coleção de cinco curtas eróticos, baseados em contos de escritoras de sucesso japonesas e dirigidos por importantes diretores, que revelam a natureza, a força, as fraquezas e os instintos de cinco mulheres de gerações diferentes.

Firefly (Hotaru)2000, 164 min, 35 mm, 16 anosDir. Naomi KawaseAyako é uma dançarina de striptease em depressão após sofrer um aborto e terminar seu relacionamento com um namorado abusivo. Daiji é um solitário artesão que produz cerâmicas para cerimônias religiosas. O encontro dos dois vai levar a um relacionamento no qual ambos tentarão superar os retrocessos de suas existências para entrar em uma nova fase na vida. Em Hotaru, Kawase investiga temas como tradição e memória, tentando aos poucos penetrar no mundo interior de seus personagens.Festivais e prêmios: Melhor Atriz, Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires, 2001. Prêmio CICAE, Prémio FIPRESCI, Festival Internacional de Cinema de Locarno, 2000.

Hush! (ídem) 2001, 135min, 35mm, 12 anosDir. Ryosuke HashiguchiNaoya vive uma vida auto-centrada como um homem gay assumido, até que em uma casualidade conhece Katsuhiro e se apaixona. Asako, uma mulher psicologicamente frágil que deseja ter um filho, conhece os dois por acaso em um restaurante e vê, em Katsuhiro, o pai ideal. Ela então propõe que concebam, juntos, uma criança. Naoya opõe-se à idéia, e se irrita com Katsuhiro, que sempre escondeu sua homossexualidade e não consegue se decidir. A já complexa relação entre os três vai ser colocada em xeque com a visita inesperada da família de Katsuhiro.Hashigushi consegue fazer justiça a todas as suas personagens e às muitas linhas narrativas e temas. Vemos os três protagonistas se separarem, antes que suas vidas se cruzem novamente. Naoya trabalha em uma pet shop e freqüenta bares e boates gays, mas tem a sensação de que falta algo em sua vida relaxada e um tanto quanto egoísta. Quando conhece Katsuhiro, ele se apaixona. Katsuhiro esconde sua homossexualidade de sua família e amigos, inclusive de um colega, que está apaixonado por ele. A terceira protagonista é Asako, uma mulher com um histórico de doença mental e desejo por crianças. Quando Katsuhiro a trata de forma paternal em um encontro muito breve em um restaurante, ela decide que ele seria o pai ideal. Seu desejo, é claro, causa problemas no relacionamento entre Naoya e Katsuhiro. O complexo relacionamento triangular atinge um clímax cômico e trágico durante uma visita inesperada da família de Katsuhiro. Ryosuke realizou um melodrama cativante e em muitos momentos cômico sobre relacionamentos (homossexuais), amizade, solidão e família. Uma mulher decide que quer ter um filho com um homem gay. O que o namorado dela vai achar disso? O que é uma família? Como nós reconhecemos uma? São duas das questões colocadas por "Hush!". Em uma sociedade que não encontra mais segurança nas antigas tradições, três pessoas solitárias tentam criar uma definição de família, na qual possam acreditar.

It's Only Talk (Yawarakai Seikatsu)2005, 126 min, 16 anosDir: Ryuichi HirokiYuko, uma mulher solteira e desempregada que passa por um período de depressão, divide seu tempo entre alguns amigos homens, cada um com seu estilo próprio. Para conviver com cada um deles, ela adapta sua própria personalidade, atuando de diferentes formas dependendo de quem está por perto, o que acaba escondendo de todos como ela realmente é.Tendo o vídeo digital com meio para apresentar a personagem Yuko, o filme revela problemas reais e contemporâneos. As emoções da mulher japonesa de trinta e poucos anos, que considera o fato de uma mulher seguir carreira profissional tão apelativo quanto ser uma dona de casa à parte do mundo, fazendo com que ela encare a total falta de alternativas e o medo do relacionamento e da intimidade. Um filme leve sobre uma mulher independente que tem um problema não tão leve assim. Yuko tem quatro amantes.

No One's Ark (Baka no Hakobune)2002, 111min, 35mm, 12 anosDir. Nobuhiro YamashitaO jovem Daisuke e sua namorada, Hisako, deixam Tóquio e vão para a pequena cidade natal de Daisuke, tentar convencer a população local a consumir uma bebida saudável que, por causa de seu horrível sabor, eles não conseguem vender em Tóquio. Mas nem sua própria família e seus colegas de infância se empolgam com a empreitada dos dois. Ambientado no início da década de 90, o filme mostra, com toques de humor, a dificuldade das novas gerações em achar um lugar na economia de seu país."Se Jarmusch reencarnasse como um japonês de vinte-e-poucos anos, ele filmaria No One's Ark", escreveu um crítico. Observações aguçadas e boas piadas mostrando uma crise como pano de fundo.

Otakus in Love (Koi no Mon)2004, 116 min, 35mm, 12 anos Dir. Matsuo SuzukiMon, um pobre artesão que desenha mangás em pedras, ao recolher uma pedra no chão tem sua mão pisada pelo salto do sapato de Koi, uma garota viciada em cosplay e popular criadora de mangas para meninas. Koi, na mesma hora, se sente atraída pelo rapaz, que continua interessado na pedra. Passeando pelo universo extremamente popular do mangá no Japão, o filme narra a relação tortuosa dos dois, onde opostos se atraem, mas também se repelem.Por ser baseado em um "manga" de Hanyunyuu Jun, o filme apresenta uma série de piadas internas dos adeptos leitores de "mangas" populares.

Ping Pong (Ping Pong)2002, 114 min, 35 mm, 12 anosDir. Fumihiro Masuri (Sori)Amigos de longa-data, Peco e Smile chegaram a uma encruzilhada. Smile é o melhor jogador, mas perde constantemente para Peco, devido a um deturpado senso de amizade. Com a possibilidade dos dois se encontrarem na final de uma importante competição, a rígida técnica Obaba pressiona Peco: é hora de impor-se ou desistir. Para Smile, impor-se é duro, para Peco, desistir é quase impossível.

Tokyo Noir (Tokyo Noir)2004, 127 min, 35 mm, 18 anosDir: Masato Ishioka, Naoto KumazawaUma coletânea com três histórias curtas sobre a vida de três mulheres vivendo em Tóquio e suas diferentes atitudes em relação ao sexo. Um filme onde o erotismo é utilizado como uma ferramenta para delinear os traços psicológicos das personagens e contextualizar o momento em que vivem.

Vibrator (Vibrator)2003, 95 min, 35 mm, 16 anosDir: Ryuichi HirokiRei Hayakawa, uma escritora independente, tem o dom de ouvir vozes dentro de sua cabeça. Mas as vozes lhe causam dor: elas a preocupam, dificultam seu sono, a levam a beber e causam desordens alimentares. Uma noite, em uma loja de conveniência, com as vozes mais altas que nunca em sua cabeça, ela conhece um motorista de caminhão. Ela decide embarcar com ele em uma viagem e, enquanto seu corpo se rende às vibrações do caminhão, vai aos poucos se libertando das vozes em sua cabeça.Com este filme, Ryuichi(mesmo diretor de It's Only Talk e co-diretor de Female),explora esta 'geração perdida', tema que abordará também em "It's Only Talk", simbolizada por vidas conturbadas e futuro incerto. Questionado sobre o sucesso do filme em vários festivais internacionais, inclusive por ter sido eleito o melhor filme de 2003 pela crítica, Ryiuchi credita o fato ao filme tratar de questões basicamente femininas e à maneira como elas são descritas, aliado à curiosidade masculina em entender o universo feminino." (extraído da programação oficial do evento)

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