quinta-feira, julho 06, 2006

O MEDO DEVORA A ALMA

O MEDO DEVORA A ALMA
Angst essen Seele auf. Alem., 1974. De: Rainer Werner Fassbinder. Com: Brigitte Mira, El Hedi bem Salem, Bárbara Valentin, Irm Herrman, Anita Bucher, Pater Gauhe. OP-14/DR. 93 min.
Para uma parcela significativa da crítica especializada, O Medo Devora a Alma é uma das obras primas do controverso diretor alemão Rainer Werner Fassbinder. Concebido durante o intervalo de duas grandes produções (Martha e Effi Breast), o filme foi realizado com poucos recursos e escrito com a intenção clara de tocar na ferida do racismo velado que permeava a sociedade alemã do pós-guerra, ainda marcada pela sombra do nazismo e submersa na divisão ideológica personificada pelo Muro de Berlim.
A trama tem início quando a viúva Emmi Kurowski, uma mulher velha e combalida como a própria Alemanha, para proteger-se da chuva, procura abrigo num bar freqüentado por imigrantes. Sorrateiramente, pede um refrigerante e passa a observar os clientes do lugar até ser surpreendida por um homem alto, forte e de feições rudes que a convida para dançar, incentivado pela voluptuosa dona do bar, que o desafiou a tomar tal atitude. Ele tem origem marroquina e chama-se El Hedi bem Salem (o mesmo nome do ator), mas é conhecido como Ali, um nome genérico usado para identificar os imigrantes de nome extenso e de difícil pronúncia, divide um apartamento com mais cinco amigos e trabalha numa pequena oficina. Encanta-se com a velha e solitária senhora, de quem se aproximou movido pelo acaso e resolve, por educação, acompanha-la até em casa.
Emmi mora sozinha num pequeno apartamento e devido a forte chuva que insiste em não parar de cair, convida Ali para subir e tomar um café. Ciente da grande distância que o homem terá que percorrer para voltar ao bar e da falta de conforto das suas atuais instalações, resolve convidá-lo a passar a noite, proposta que é prontamente aceita pelo marroquino. Arranja-lhe o pijama do falecido marido e acomoda-o no quarto de hóspedes. Ali não consegue dormir e procura abrigo nos braços de Emmi, como se fosse um garoto assustado em busca do colo materno que há muito foi perdido pelo transcorrer da vida. Os dois passam a noite juntos para surpresa da própria Emmi, que acorda atônita e ao mesmo tempo feliz com as emoções vividas. Tomam café juntos e despendem-se sem firmar compromissos ou estabelecer um novo encontro.
A velha viúva retorna as atividades cotidianas e cumpre o turno diário como faxineira, trabalho que a mesma sempre omite em virtude do preconceito acerca da atividade, considerada um subemprego. Ao final do dia, retorna ao bar na esperança de rever Ali, mas não o encontra. Desolada, retorna para casa e é surpreendida pela figura peculiar do imigrante, que a espera em silêncio, na porta do edifício. Novamente ficam juntos e no dia seguinte Emmi é abordada pelo filho do síndico que, tirando conclusões equivocadas quanto a presença de Ali, a informa que ela não pode sublocar o apartamento ao imigrante. De súbito, ela informa que irá casar-se com o rapaz para evitar maiores problemas. A idéia nascida da impulsividade, deixa o rapaz feliz e incentiva Emmi a transformar o improvável em realidade.
Os dois casam-se sem fazer alarde e iniciam um relacionamento repleto de bons momentos, mas incessantemente atacado pelos olhares de reprovação da sociedade e das pessoas que os cercam. Primeiro são os três filhos de Emmi, que não convivem com mãe há muito tempo e condenam a união; depois as vizinhas fofoqueiras e maledicentes; as colegas de trabalho que passam a desprezá-la e até o dono da mercearia do bairro, que se recusa a vender mercadorias a um estrangeiro de pele escura. Angustiada, Emmi decide viajar com Ali, para acalmar os ânimos de seus opositores e evitar maiores conflitos.
Ao retornar, o casal encontra várias mudanças e esta outra faceta do preconceito racial é habilmente abordada pelo roteiro. Da mesma forma que, logo de início, foram capazes de oprimir e repelir o casal, os detratores de outrora colocam a máscara da dissimulação e empurram para debaixo do tapete todo e qualquer resquício de intolerância quando o os seus interesses pessoais estão em jogo. Assim, um dos filhos volta a falar com a mãe pela simples necessidade de precisar desta para cuidar de seu filho, enquanto viaja a trabalho; as vizinhas passam a necessitar da força de Ali para realizar mudanças e pequenos reparos domésticos; e o dono da mercearia, fecha os olhos para as diferenças e tenta agradar a antiga freguesa para não ter prejuízo na sua receita mensal. A própria Emmi passa a interagir e a corroborar com esta sociedade de faz de conta, movida pelas aparências, onde os interesses individuais são mais importantes que os direitos coletivos. Isto fica bastante claro na cena em que ela deixa que as amigas de trabalho toquem os músculos de Ali, como se este fosse uma atração de circo, um ser “inferior” subjugado e colocado à disposição de pessoas supostamente “superiores”.
As novas imposições sociais deterioram o relacionamento do casal, e Ali vai buscar consolo no corpo farto da dona do bar, uma loira corpulenta e impassível que já havia sido amante do imigrante. Acuado e carente, ele desiste de voltar para casa, deixando a esposa sem notícias do seu paradeiro. Esta, por sua vez, entra em desespero com a ausência do marido e vai buscá-lo no único lugar onde ele poderia ter ido afogar as mágoas: o bar onde os dois se conheceram. De forma simbólica, Emmi adentra o local e, como se fosse a primeira vez, pede para tocar a música que os dois haviam dançado. Ao escutá-la, Ali, quase que mecanicamente, levanta-se e convida a velha senhora para dançar. É o recomeço de um romance interracial destruído pelas mazelas e interferências sociais . Mas nada será como antes, e desta vez o forte Ali caí, contorcendo-se de dor, vencido pelo estresse de um mundo opressora, movido por convenções ortodoxas, sentimentos postiços e pessoas duvidosos. De forma melancólica, o filme termina com o casal dentro de um hospital, com Emmi fazendo juras de amor eterno ao combalido Ali, vitimado por uma úlcera e deitado, inconsciente, numa cama como se fosse um sobrevivente de guerra. Não uma guerra real, mas um conflito invisível, nascido no berço da própria sociedade e tendo como combustível a intolerância e o ódio racial.
Simples e objetivo, muitos dizem que a história é baseada no romance real vivido pelo próprio Fassbinder com o ator El Hedi, um imigrante do sul da África que nunca se adaptou ao tratamento dado aos imigrantes dentro da Alemanha. Ele viveu com o diretor durante os anos setenta e participou de seus filmes como assistente ou atuando em pequenos papéis. A sua própria vida daria um filme e terminou de forma trágica. Desequilibrado e entregue ao alcoolismo, ele surtou numa farra noturna e apunhalou três pessoas. Condenado, enforcou-se na prisão no ano de 1982 . Desta vez, a vida foi mais cruel que a ficção.
O filme ganhou dois prêmios no Festival e Cannes e a atriz veterana Brigitte Mira, vinda de papéis coadjuvantes inexpressivos, foi eleita a melhor atriz alemã do ano de 74 pelo German Film Awards. A obra foi escrita, produzida e musicada pelo próprio Fassbinder, que também atua no pequeno papel de cunhado da velha senhora Emmi.

6 comentários:

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