quarta-feira, março 01, 2006

DIVINA LOUCURA

PINK FLAMINGOS
Idem. EUA, 1972. De: John Waters. Com: Divine, David Lochary, Mink Stole, Mary Vivian Pearce, Danny Mills, Edith Massey, Cookie Mueller. A/C. Visto 28/02 (Cinemax) 108 min
Comentário
Divine recebe o título de “A Pessoa Mais Obscena do Mundo” e desperta a inveja do casal Raymond e Connie Marble. Eles são tarados, ladrões e se acham merecedores da alcunha concedida ao obeso travesti, pois levaram anos construindo um rentável império formado por lojas pornôs e por um negócio dos mais politicamente incorretos, que consiste em seqüestrar jovens mulheres, engravida-las a força e vender os bebês para casais de lésbicas (!). Obstinados, descobrem o paradeiro da rival, que usa o nome verdadeiro de Babs Johnson e vive num trailer em companhia da mãe, viciada em ovo e que passa os dias dentro de um cercadinho, do filho tarado e da amiga voyeur. Depois de algumas reviravoltas, o confronto entre o casal e a heroína é inevitável e repleto das mais absurdas seqüências. Clássico absoluto do mau gosto e da liberdade vivenciada pelos precursores do cinema americano independente no final dos anos 60 e início dos 70, este Pink Flamingos é o terceiro longa de John Waters, rodado em 16 mm, tendo como cenário Baltimore, a sua terra natal, e como estrela Divine, ou melhor Harris Glenn Milstead (morto em 88, vítima de um ataque cardíaco). De lá para cá, o mundo mudou e a América involuiu, corroborada pela chegada ao poder dos conservadores republicanos e das suas noções tortas de ética, justiça e moral exacerbada. O máximo de ousadia hoje nos Estados Unidos é a visão cândida de um seio fujão da cantora Janet Jackson durante um evento esportivo, suficiente para virar escândalo internacional e trazer a tona a crescente ausência de liberdade de expressão vivida pelos americanos da era Bush. Até o outrora ousado Waters, tirou o time de campo e só produz comediazinhas insossas e convencionais. Melhor ficar com as duas cenas clássicas da sua fase áurea, que fariam o titio Bush corar: o repugnante close de um ânus prestes a defecar e a insana “mamãe” Divine realizando um espontâneo e explícito fellation para acalmar a ansiedade do seu filhinho. Mais transgressor, impossível!. Essa é uma versão restaurada pela New Line em virtude da comemoração de 25 anos do filme, e traz ao final comentários do diretor, sempre elegante de terno, gravata borboleta e o indefectível e bem aparado bigodinho.

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