terça-feira, março 14, 2006

ESSE OBSCURO OBJETO DE DESEJO

UM PONT ENTRE DEUX RIVES
Idem, França, 1999. De: Gerard Depardieu e Frédéric Auburtin. Com: Carole Bouquet, Gerard Depardieu, Charles Berling, Stanilas Crevillén, Dominique Reymond, Mélanie Laurent. OP/DR. Visto 12/03 (TV 5) 95 min
Comentário:Lembro de Carole Bouquet na sua estréia diante das câmeras em Esse Obscuro Objeto de Desejo (1977), último filme do mestre Luis Buñuel. Vivendo um papel duplo, também interpretado pela espanhola Agela Molina e fruto da mente surreal de Buñuel, a sua gélida e sensual personagem leva à loucura um homem mais velho (Fernando Rey). E diante da beleza pálida de Bouquet, qualquer loucura é justificada. Depois deste começo, foi bond-girl, participou de muitas fitas obscuras e pouco vistas na década de 80 e encontrou o seu espaço dentro do cinema fracês nos anos 90. Casou com a “máquina de fazer filmes” Gerard Depardieu, e este, em agradecimeto por ela agüentar os seus vários quilos a mais, dirigiu este filme nostálgico e sensível. Aos 42 anos, Carole está luminosa como Mina, uma dona de casa em plena década de 60 que vive com o filho adolescente (o bom Crevilée) e o marido desempregado (Depardieu). Diante da falta de perspectivas, ela aceita trabalhar como cozinheira na mansão da família Daboval e tem como único passatempo as alegres tardes de domingo passadas dentro do cineminha local. O marido encontra uma nova função com mestre de obras na construção de uma ponte, numa cidade próxima, e começa a se ausentar, tempo suficiente para que Mina conheça Matthias, o engenheiro da ponte, e inicie uma nova história de amor, com a relutante cumplicidade do filho. Em determinado momento a verdade vem à tona e como estamos diante de um filme francês, a resolução é bastante civilizada e satisfatória, como deveria ser na vida real, mas não o é. Esta é a segunda experiência de Depardieu como diretor, antes havia feito Tartuffo em 84, e ele demonstra ter aprendido bem o novo ofício. O filme é bem conduzido, corretamente fotografado e apresenta uma convicente recostituição dos anos sessenta (a trilha sonora é uma delícia!), mas o maior destaque é mesmo a beleza madura de Bouquet. Ao contrário de outras atrizes quarentonas, cada vez mais deformadas pelo Botox, ela não esconde a sua maturidade e por isso mesmo imprime jovialidade e carisma a um personagem que também consegue conquistar os espectadores, tornando totalmente verossímil a paixão imediata sentida pelo engenheiro. Tudo bem, é meio estranho ver Carole, com seu ar aristocrático, servindo mesa e cortando cebola, mas se até a patricinha milionária Paris Hilton (argh!) tirou leite de vaca e fez faxina no reality show The Simple Life, o filme está mais do que perdoado.

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